Leiam esta matéria que foi veinculada no site, olheiros e vejam como estamos tratando nosso maior ídolo nos últimos tempo.
Breno Pires - 25/01/2011

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Com 21 anos, o garoto de Salgueiro – cidade do Sertão pernambucano – é um goleador nato. Não é dos mais velozes com a bola no pé, mas é muito rápido no arremate, que costuma ser potente. Uns dizem que a bola o procura na área. Talvez mais por instinto que por leitura de jogo mesmo, ele realmente costuma estar no lugar certo para marcar.
Desde a sua estreia como profissional, na Série A, contra o Ipatinga, em 2008, já balançou a rede 50 vezes pelo Sport, sendo 31 na temporada 2010, que marcou a sua afirmação. Nesse meio tempo disputou o Mundial Sub-20 em 2009, no Egito, e marcou oito gols com a amarelinha em amistosos antes do torneio.
No entanto, por mais que esteja se provando um prodígio fazedor de gols, não está sendo fácil para o atacante subir de patamar, por motivos outros que não a sua capacidade. Ciro tem se mostrado muito suscetível a momentos de baixa, por vezes devido a causas extracampo, como o desejo de se transferir para um time de ponta desde 2009, após o Mundial, e, mais recentemente, a morte de seu pai, Carlos Augusto da Silva, em dezembro passado.
Início no Salgueiro
A história desse jovem artilheiro começou nos campinhos da cidade de Salgueiro. O pai Carlos, que era radialista esportivo, sonhava em ver o filho atuando profissionalmente e desde cedo foi atrás de oportunidades para o menino.
A primeira delas foi numa peneira no município promovida pela cantora Daniela Mercury. Dentre 250 garotos, os quatro melhores iriam para o Flamengo, o Cruzeiro, o Atlético-PR e o Vitória. Ciro foi selecionado para o Flamengo, porém seu pai decidiu que ele continuaria em sua terra junto à família.
Seu Carlos então o levou Ciro, então com 15 anos, para as divisões de base do Salgueiro – que hoje se encontra na Série B. Em pouco mais de um ano, ele chamou a atenção do Sport pelos gols que marcava nos torneios estaduais de base e recebeu o convite para se mudar para a Ilha do Retiro, em 2006, indicado pelo técnico Neco.
Impacto no Sport
Ciro atraiu os primeiros holofotes no Campeonato Pernambucano de Juniores em 2008. Marcou 34 gols em 29 jogos, feito que lhe proporcionou a subida para os profissionais com o status de promessa. Status que ele cuidou de cultivar agarrando com tudo as oportunidades recebidas. Com a camisa rubro-negra, ele se mostrou especialista em estréias. Na primeira partida como profissional contra o Ipatinga, na Ilha do Retiro, mesmo entrando no segundo tempo, sofreu um pênalti e fez um golaço de fora da área, garantindo o trunfo por 3 a 1. Deixou sua marca também contra o Vasco e Atlético Mineiro (duas vezes).
Em 2009, ano do retorno do Sport à Libertadores depois de 21 anos, Ciro, que só tinha 19, garantiu a titularidade com gols no Campeonato Pernambucano e, na estreia do Leão no torneio continental, contra o Colo Colo, no Chile, marcou o gol de abertura e deu o passe para Wilson fazer o segundo do triunfo por 2 a 1, ofuscando um tal Lucas Barrios, que descontou perto do fim.
Logo foi chamado para a seleção Sub-20, que disputaria o Mundial no Egito. Foi destaque em amistosos preparatórios, marcando 8 gols. Já na competição internacional, jogou pouco, mas deixou a sua marca no jogo contra a Austrália, entortando um zagueiro e acertando um belo chute no ângulo, o primeiro gol da virada brasileira por 3 a 1. No retorno ao Sport, encontrou o time brigando contra o rebaixamento à Série B. Como a maioria do time, foi mal. Amargou a queda e, pessoalmente, o dissabor de não balançar as redes no certame.

Afirmação
Depois de um 2009 promissor, a afirmação veio em 2010. Ciro foi artilheiro do Campeonato Pernambucano com 13 gols, quebrando um tabu do Sport de não fazer o goleador máximo desde 2001, quando Rodrigo Gral ficou empatado com Kuki. Na Série B, o atacante marcou 16 na Série B, tendo liderado o ranking de artilheiros durante a maior parte do torneio – terminou em 3º. Somem-se os 2 gols na Copa do Brasil, e o atacante fechou o ano com 31 tentos.
Apesar de ter sido uma temporada muito boa, o atacante deixou a desejar na reta final, quando o Sport disputou taco a taco a vaga pelo acesso com o América-MG e a Portuguesa. Ele não fez gols nos últimos jogos, o que reacendeu alguns questionamentos quanto àquele que parecia ser o seu principal problema na temporada: a irregularidade.
Uns dizem que o seu desempenho se dá ao sabor do time, isto é, quando os companheiros estão mal, ele não rende. E exige-se de grandes atacantes a capacidade de decidir nos momentos difíceis.
Se, por um lado, é evidente que ele ainda tem que evoluir, por outro lado, o que mostrou ao longo de 2010 foi mais que suficiente para atrair o interesse de grandes como o Flamengo, o Palmeiras, o Corinthians e o Fluminense. Valendo-se da multa rescisória alta (R$ 20 milhões para o Brasil e R$ 40 para o exterior), o então presidente Sílvio Guimarães foi rechaçando todas as investidas, pedindo R$ 15 milhões. Guimarães revelou ter recusado proposta de R$ 6 milhões do rubro-negro carioca no decorrer do ano.
No fim do ano, o Flamengo – dessa vez com a concorrência do Fluminense – voltou a ter proposta negada. E houve até rumores de que o Leverkusen poderia fazer uma proposta, o que acabou não acontecendo.
Hora de partir
A recusa dessas oportunidades de transferência tem frustrado bastante o atacante, que revelou em entrevistas públicas o seu descontentamento. Para manter o atleta, o clube tem um planejamento de aumento salarial, mas o atacante não se satisfaz – e não esconde isso.
Ciro vive um problema novo no futebol contemporâneo. A ânsia, por parte dos jovens, de ascensão na carreira. Em alguns casos, trata-se de uma antecipação inapropriada, sendo necessário aprimorar-se um pouco mais; em outros, a vontade de partir tem fundamento.
Aqui pode se traçar um paralelo entre a situação de Ciro e a de Hernanes, guardadas as proporções. O meia ex-São Paulo demorou anos para ser liberado pelo clube e pode brilhar num centro maior, no caso o futebol italiano. Mais uma vez diante do Campeonato Pernambucano e da Série B, Ciro anseia pelo seu próximo passo, que é um grande clube nacional.
A frustração dele se torna maior ao ver que os seus companheiros companheiros de Sub-20 já estão dois passos à frente. Os atacantes Allan Kardec e Maicon defendem, respectivamente, Benfica e Lokomotiv Moscou. Os meias Douglas Costa e Alex Teixeira são do Shakhtar e, há poucos dias, Giuliano foi para o Dnipro, também da Ucrânia.
Não precisa ser vidente para compreender que a evolução de Ciro na carreira passa por uma transferência para um clube que lhe dê melhores condições de trabalho, que lhe permita disputar competições mais fortes e lhe dê visibilidade. Além disso, é extremamente natural ele pretender uma conta bancária gorda, algo que se tornou obsessão no futebol. Fato é que é difícil encontrar motivação nas condições atuais.
A dura perda de Ciro
Além dessa questão sintomática em seu desempenho, nas férias para a temporada 2011 o garoto Ciro sofreu um duro golpe do destino. Seu Carlos faleceu, inesperadamente, abatido por um câncer de fígado que parecia estar controlado. Muito apegado ao pai, o garoto ficou completamente abalado, sem cabeça para o início da temporada 2011. Não surpreende que ele não tenha marcado gol algum nos quatro jogos do Leão até aqui no Campeonato Pernambucano.
O reconhecimento da crise pessoal veio com o pedido de ficar de fora de alguns jogos. Na primeira vez que falou sobre o assunto, antes do terceiro jogo, contra a Cabense, voltou atrás e resolveu atuar. Já depois da partida seguinte, contra o Ypiranga, Ciro voltou a pedir a liberação, concedida pela comissão técnica. O pretexto é melhor preparação física e técnica, que não está sendo feito de forma apropriada devido à maratona de jogos no início do Campeonato Pernambucano. Esses quatro jogos aconteceram no espaço de oito dias. Mas é sabido que a questão é psicológica mesmo.
Agora Ciro se encontra em um momento de impasse. Precisa superar a perda do pai e engolir a seco o desejo de se transferir. E simplesmente jogar. Só assim os trilhos poderão entrar no eixo, e esse talento, uma jóia bruta, poderá ser lapidado. É torcer também para que a oportunidade que ele tanto esperava noutro centro surja. “Vai na bola, Ciro!”
Ficha técnica
Nome completo: Ciro Henrique Alves Ferreira e Silva
Data de nascimento: 18/04/1989
Local de nascimento: Salgueiro, Pernambuco
Clube que defendeu: Sport
Seleção de base que defendeu: Brasil sub-20
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